domingo, 24 de julho de 2011

Beco sem saída




Num beco sem saída era assim que eu me sentia, há já alguns anos atrás! É difícil ser-se adolescente, passar por todas as mudanças, quer físicas ou psicológicas.Não me ensinaram a ser adolescente, não me ensinaram a como reagir, ou melhor, digerir todas as mudanças, fui lançada aos leões. Parece um pouco dramático, mas foi assim a forma como me senti!
Talvez tivesse sido benéfico falar com alguém, pedir alguns conselhos, mas nunca fui esse tido de rapariga. Acho que gosto de viver no meu mundo, e por isso os meus problemas não dizem respeito a mais ninguém, a não ser a mim!
Os problemas com a alimentação começaram aí, no inicio da adolescência. O meu corpo modificou de tal forma, que toda a minha auto-estima não resistiu! Era difícil olhar-me ao espelho, era difícil ver a imagem reflectida- odiava-a! Toda a minha vida resumia-se ao meu aspecto exterior...se ele era horrível, então eu era horrível e não valia nada! Não tinha nada de positivo! Nada de bonito...no fundo eu sentia-me um grande " Nada".  Perder peso era o objectivo, não com o intuito de simplesmente ser magra, ou por achar que magreza é sinonimo de beleza, porque NÃO O ACHO QUE SEJA! Mas não me sentia confortável num corpo que aparentava ser de mulher, e uma mente de criança! Era desproporcional e desconcertante para mim.
Inicialmente fui reduzindo a comida, fazia exercício de uma forma equilibrada, mas não durou muito! Eu queria resultados rápidos por isso cortei radicalmente na comida, sabia a quantidades de Klcal de cada alimento que ingeria, e tripliquei a quantidade de exercício que fazia.
- Eu sentia-me no topo do mundo! comecei a perder peso rapidamente! Na verdade ficava esfomeada o dia inteiro,tudo o que eu pensava era em comer! mas não me auto-permitia a faze-lo! Cada quilo que perdia era sinonimo para mim de um auto controlo enorme, e pensava eu que aquilo que fazia estava totalmente certo! e que saberia parar quando fosse necessário!
Bem enganei-me totalmente! Não soube parar, fui emagrecendo e emagrecendo até que a minha magreza começou a chamar a atenção! Todos diziam para parar mas eu simplesmente não conseguia!!
Acho que não me encaixo no estereotipo da rapariga que embora muito magra se vê muito gorda! Não! Não era nada disso, pelo contrário eu sabia perfeitamente que estava muito magra, demasiado! Eu era pele e osso , um esqueleto ( estes foram alguns adjectivos que eu ouvia praticamente todos os dias as pessoas dizerem) mas quando comia algo que habitualmente não comia ( como por exemplo uma simples bolacha! UMA!), eu endoidecia! Para mim era como se  voltasse a ser a gorda horrível que era, era como se toda a dieta fosse por água a baixo pq tinha ingerido uma simples bolacha.... era um inferno! .... no entanto, acho que nunca ninguém se quis envolver demasiado, todos diziam que eu estava muito magra! Ora mas muito magra era quase um elogio para mim! É bom ser magra, muito magra é óptimo! ( na minha opinião na dada altura). 
Não me lembro de ninguém dizer que eu parecia doente, ou débil, ou infeliz ..... excepto a minha família que se mostrava seriamente preocupara comigo, obrigando-me a ir um vez ao médico mas essa dada altura eu ainda estava saudável. 
Em nenhum momento durante esta situação eu fiquei feliz com a minha aparência,nunca me achei bonita.... e esse é um dos problemas que ficou por resolver!.

Cheguei ao beco sem saída! Estava demasiado magra, recusava-me ir ao médico mais uma vez, escondia-me por detrás de roupas volumosas  e por detrás de um sorriso falso... não tenho bem a certeza...mas penso que cheguei aos 45 quilos...... e não digo isto com orgulho algum, antes pelo contrário, com vergonha!
Toda a minha privação pela comida, de um momento para o outro foi tocada....
Comecei a ter compulsões alimentares principalmente à noite. Durante o dia como normalmente, mas chegava a noite e era um descontrolo enorme. Comia principalmente alimentos com açúcar, por exemplo bolachas, chocolates, etc. Não sei explicar o porquê!!! Mas era come se todo aquela sofrimento pelo qual eu passava era amenizado pela comida! ..Mais uma vez eu sabia que era errado, mas já não conseguia mais me controlar!
...Eu era tão insegura!! e tão triste!! que quando comecei a ganhar peso...peso a mais...os olhares começaram a surgir novamente! As pessoas falavam, criticavam, riam... gozavam e..faziam-me sentir cada vez mais infeliz e insegura. Confesso, que quando estava sozinha na escola, cheguei a trancar-me nas casas de banho, e ficar lá, para que ninguém me visse, e pudesse fazer mais um comentário maldoso...
Um dos comentários mais maldoso que ouvi, foi quando estava sentada no autocarro que transportava os alunos da escola para casa...passaram 2 alunos, amigos, um deles que eu conhecia parou por segundos a beira do bando ao meu lado que estava vazio...no entanto surgiu em frente e disse ao amigo que era melhor não sentar lá pois eu poderia explodir de tão gorda que estava .....

.... cheguei aos 75 quilos, devo dizer muito rapidamente...e novamente posso dizer que não  me orgulho do que fiz....
Algum tempo passou, mas são lembranças se não consigo esquecer, foram momentos horríveis, sinto tanto alivio por já fazerem parte do passado! No entanto ainda sinto tanto receio que possa voltar a descontrolar-me desta forma e voltar tudo a acontecer!! Actualmente estou com um peso saudável  mas  os sentimentos continuam tão presentes! A falta de auto estima, a busca da perfeição! O não contentamento com a minha aparência....! Mas é algo que com o tempo possa vir a mudar e aceitar o facto que a perfeição não existe e que somos muito mais do que o exterior!


Este texto é apenas um desabafo... senti necessidade de o fazer...num dia em que estas lembranças me vieram  à cabeça....
No entanto há aspectos positivos também! Já diz o ditado popular : " O que não nos mata, torna-nos mais fortes". E eu sinto-me mais forte em consequência destes acontecimentos! Tornou-me também uma pessoa menos hipócrita e menos superficial, que não avalia apenas pelo exterior e principalmente aprendi a não julgar as pessoas, sem saber ou pelo menos tentar entender o que se passa com elas....

[Este post é deveras pessoal, onde são relatadas coisas que provavelmente nunca foram ditas.]



"Na sociedade há muitas pessoas tentando conquistar o mundo exterior, mas não o seu mundo interior. Elas compram bajuladores, mas não amigos; roupas de grife, mas não o conforto. Colocam trancas nas portas, mas não tem proteção emocional. (O Futuro da Humanidade)"

Augusto Cury

Um comentário:

  1. Bem, embora já tivesse conhecimento deste "historial", aparte de alguns pormenores, não deixo de me sentir tocado qd leio este teu texto :/
    Identifico-me com o facto de tb não conseguir exteriorizar o que me afecta e guardá-lo só para mim e "moer", "moer", "moer"... melhor dizendo e adequando ao presente aprendi a partilhar mais, mas ainda assim por vezes sinto alguma dificuldade em partilhar :S À custa disto já "passei por muito", já vi o mundo ao contrário e do pior ângulo que algum dia pude imaginar...passei situações que nem quero recordar em que... apenas sobrevivia...literalmente!
    O importante é que consegui superar, assim como tu e tal como o ditado diz "o que não nos mata, torna-nos mais fortes" é tal iqual o que me sinto hj, superei e posso dizer que renasci:) Questiono-me como me deixei afundar!
    A minha filosofia de vida mudou, a determinação cresceu deu, dá e espero que continue a dar frutos.=) Aprendi a viver e a dar importância àquilo q realmente importa...e sim, tornei-me uma pessoa mais fria, ou melhor digamos que mais madura e que evoluiu bastante após aquela "lição". Hj, estranhamente, até sinto que devia ter mesmo passado por aquilo para ser o q sou ;)...
    É certo que a adolescência nos traz muitas alterações tanto a nível psíquico como físico. Tb é verdade que é nessa altura que se comentem os maiores erros, ou não, da nossa vida os quais vão estar para sempre gravados nas nossas memórias e q são eles que ajudam a construir e/ou influenciam a nossa personalidade qd adultos e ao longo das nossas vidas. Por essa razão, os nossos educadores (papás), que já têm muitas mais lições que nós, têm e sentem a obrigação de nos orientar.
    Sabem exactamente, e sempre, o que se passa connosco e nem precisamos pronunciar uma palavra ;) Mas é óbvio que a palavra final é sempre nossa. Somos nós que tendo em conta a inocência, ignorância e irreverência característica da idade decidimos seguir ou não as indicações dos papás q nunca se enganam ;) Vimos sempre a dar-lhes razão mais cedo ou mais tarde, qualquer que seja a nossa palavra final :) Nós mesmo chegamos a concluir: "onde andava a minha cabeça naquela altura?";)
    É óbvio que a nossa sociedade é muito rica e vasta (lol) e como tal tb coexistem nela pessoas mal-formadas, ignorantes, arrogantes que no momento oportuno e em que menos as queríamos ouvir adoram proferir a sua palavrinha "amigável", que as faz sentir no auge da sua essência estúpida.
    São coisas que lembramos sempre, mas que só nós decidimos a parte útil q tirar delas.
    É com determinação, garra e inteligência q conseguimos alcançar tudo aquilo a que nos predispomos. Devemos sempre seguir aquilo que é certo e nunca nos deixarmos cair em tentações. Traçar objectivos "não doentidos" e inteligentes e segui-los sem desleixos é fundamental. Os medos desaparecem, porque eles são fantasmas que a nossa mente cria qd tememos o insucesso, apenas precisam ser contrariados e ser provado por nós mesmos e a nós memsmos q n fazem sentido qd "agarramos" aquilo q queremos com toda a força do mundo. ;)
    Qd somos assombrados por pensamentos que nos oprimem pq não pensar em coisas bonitas e fazer coisas q adoramos fazer? :D...o negativismo desaparece de certeza e a determinação floresce ;) LU <3

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